Renda básica de cidadania: a ideia genial que o PT abandonou

No começo de 2004, quando Lula completou um ano na Presidência da República, circulou na internet uma piada mais ou menos assim: “O primeiro mandato de FHC foi bom; o segundo, nem tanto; o terceiro está sendo um desastre”.

O chiste dizia muito a respeito do descontentamento de petistas e peessedebistas fiéis (ainda não se falava em mortadelas e coxinhas) diante de um governo que havia cedido às pressões do grande capital, sem, no entanto, manter os fundamentos econômicos do governo anterior e – pior para os petistas – sem realizar as reformas que faziam parte das exigências do partido.

O que se viu depois é história: governos manchados por escândalos de corrupção com prejuízos sem precedentes aos cofres públicos e, no caso de Dilma Rousseff, uma incompetência aguda que conduziu o país à paralisação.

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Conselho Nacional de Justiça: quanto tempo ele ainda dura?

“É preciso um controle externo do Judiciário; é preciso saber como funciona a caixa preta desse poder que se considera intocável”, disse o então presidente Lula, com voz inflamada, em uma solenidade no Espírito Santo, em 2003.

Estava em tramitação no Congresso a chamada Reforma do Judiciário, que, entre outras mudanças, previa a instituição do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão de controle externo do Poder Judiciário. A declaração de Lula mexeu com os brios dos magistrados, que já estavam descontentes e se movimentando contra a implementação do Conselho.

Ele acrescentou: “Este país precisa voltar a recuperar o sentido da Justiça para todos e a autoestima. As instituições foram feitas para servir às pessoas, não se servir das pessoas”.

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O triste fim de Jean Charles, um brasileiro na terra da Rainha

Os agentes da Scotland Yard estavam com os nervos à flor da pele na manhã daquela sexta-feira, 22 de julho de 2005. Quinze dias antes, Londres havia sofrido um terrível atentado, com explosões que atingiram o sistema de transporte público e mataram 56 pessoas. Além disso, na véspera, dia 21 de julho, grupos terroristas tentaram realizar um novo ataque, que felizmente falhou.

O etíope Hussain Osman era um dos procurados pelo ato malogrado do dia anterior: a polícia havia encontrado uma mochila que continha uma bomba caseira e também um documento seu – a carteira da academia onde ele praticava musculação.

Alguém poderia se perguntar por que uma pessoa com a mente voltada para o mal e executando um plano tão macabro cometeria um deslize desses, mas a explicação era mais singela: ele queria ser reconhecido e lembrado por seu feito “heroico”.

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Dramas reais na tela do cinema

(contém spoiler)

O cinema é cheio de dramas. E não estamos falando apenas de ficção. Muitos filmes registram paixões, gafes, conflitos, rivalidades, sentimentos reprimidos e até acidentes que não estavam no roteiro, dando corpo a histórias que, sem eles, não seriam tão atraentes. Assim, seus enredos acabam extrapolando a tela, criando uma curiosidade a mais entre os espectadores.

Um exemplo é o filme Último Tango em Paris, que marcou a carreira da atriz francesa Maria Schneider, especialmente por causa de sua cena mais famosa, a da manteiga. Lançado em 1972, o filme rompia paradigmas e foi considerado escandaloso – no Brasil, ficou censurado até 1979. Maria Schneider, então com apenas vinte anos, contracenou com Marlon Brando, trinta anos mais velho do que ela.

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Cuba: embargo de inteligência

A visita de Barack Obama a Cuba foi um sucesso. Talvez não tanto quanto a dos Rolling Stones, mas sem dúvida com potencial para pavimentar o caminho para novos e mais duradouros avanços. O primeiro passo já havia sido dado em 17 de dezembro de 2014, quando os dois países reataram relações diplomáticas. Agora falta acabar com o embargo econômico americano, imposto ao país caribenho em 1960 e intensificado por meio de leis posteriores.

Quando isso acontecer finalmente ficaremos sabendo, depois de 56 anos, o que Cuba tem a oferecer aos americanos além de rum e charutos. Também saberemos o que os cubanos querem comprar dos Estados Unidos que não existe em outros países. E com que dinheiro.

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Hong Kong: o editor sumiu

O enredo é digno de um filme de suspense. No fim da tarde do dia 30 de dezembro, Lee Bo, sócio da editora Mighty Current, de Hong Kong, recebeu um pedido de dez livros de um novo e desconhecido cliente e resolveu entregar os exemplares pessoalmente. Sua esposa, Sophie Choi, disse que o esperaria para jantar. Mas as horas passavam e ele não voltava para casa.

A tensão já era grande, pois quatro pessoas da Mighty Current e da livraria Causeway Bay Books, de propriedade da editora, estavam desaparecidas. Lee poderia muito bem ser o quinto da lista.

O primeiro desaparecimento ocorrera em 17 de outubro, revelando uma operação de âmbito internacional. O sócio de Lee Bo na editora, Gui Minhai, foi sequestrado por um chinês em sua casa em Pattaya, na Tailândia. Gui, que possui nacionalidade sueca, fez vários telefonemas à esposa ao longo das semanas seguintes sem nunca mencionar seu paradeiro. A família apresentou uma denúncia às autoridades da Suécia e à Interpol, porém, aparentemente, a polícia tailandesa não investigou o caso.

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O Pete Best dos Paralamas

Desde que começou a ser tocada no rádio, há mais de trinta anos, a canção Vital e sua moto, primeiro hit dos Paralamas do Sucesso, ficou na memória do público. A maioria dos que a ouviram é capaz de cantarolar pelo menos o refrão.

Pouca gente, contudo, ouviu falar no personagem que inspirou a música, o baterista Vital Dias, que fez parte da primeira formação do trio. Ele conheceu Herbert Vianna e Bi Ribeiro, os outros dois integrantes, em 1978, em um cursinho pré-vestibular no centro do Rio. Vital era o único que, além de estudar, também trabalhava – para comprar uma moto.

Por sugestão do guitarrista Herbert, Bi ficou com o baixo e Vital assumiu a bateria. O trio ensaiava na casa da avó de Bi, em Copacabana, mas nem chegou a gravar uma fita demo. Parecia que a ideia não passava de uma brincadeira entre amigos. Eles tocaram juntos o ano todo até que, em 1979, entraram na faculdade. Cada um foi para um lado.

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Os donos do Diário de Anne Frank

Em artigo anterior, falamos sobre o escritor de O Pequeno Príncipe, Antoine de Saint-Exupéry, seu misterioso desaparecimento e o fato de, em 2015, a sua obra ter caído em domínio público, o que explica a enxurrada de lançamentos do famoso livro no mundo todo, inclusive no Brasil.

Em 2016, esse seria o provável destino de outra obra de prestígio, O Diário de Anne Frank. Escrito por uma adolescente judia durante o período em que ela e sua família se escondiam da perseguição nazista, o livro veio a público depois da Segunda Guerra Mundial e comoveu o mundo.

Passados 70 anos da morte da autora, ocorrida em 1945, a obra estaria livre para publicação, sem necessidade do pagamento de direitos autorais. Porém, se depender da Anne Frank Fonds, fundação suíça criada em 1963 pelo pai de Anne, isso não vai acontecer tão cedo. Segundo a entidade, Otto Frank, que viveu até 1980, seria coautor do livro. O assunto começou a gerar polêmica no ano passado e, pelo visto, ainda vai longe.

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A morte do Pequeno Príncipe

Em 2015, muitos leitores se surpreenderam com a quantidade de exemplares de O Pequeno Príncipe nas livrarias. De certa forma isso não era novidade, pois a obra, lançada em 1943 e traduzida para mais de 250 idiomas e dialetos, é um dos livros mais vendidos da história, cerca de 150 milhões de cópias.

O que chamou a atenção, no caso, era a variedade de capas e edições, cada qual organizada por uma editora diferente.

O fenômeno tem uma explicação. Em 2014, a morte do autor da obra, Antoine de Saint-Exupéry, completou 70 anos, o que fez que, a partir de 1º de janeiro do ano passado, ela caísse em domínio público. Livres da obrigação de pagar direitos autorais, as editoras avançaram no filão, mudando apenas a forma e o grau de sofisticação de suas edições.

Essa situação é um aspecto do mercado editorial. O que pouca gente sabe é que o autor de O Pequeno Príncipe tem uma história tão fascinante quanto as que ele conta em seus livros.

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