Cuba: embargo de inteligência

A visita de Barack Obama a Cuba foi um sucesso. Talvez não tanto quanto a dos Rolling Stones, mas sem dúvida com potencial para pavimentar o caminho para novos e mais duradouros avanços. O primeiro passo já havia sido dado em 17 de dezembro de 2014, quando os dois países reataram relações diplomáticas. Agora falta acabar com o embargo econômico americano, imposto ao país caribenho em 1960 e intensificado por meio de leis posteriores.

Quando isso acontecer finalmente ficaremos sabendo, depois de 56 anos, o que Cuba tem a oferecer aos americanos além de rum e charutos. Também saberemos o que os cubanos querem comprar dos Estados Unidos que não existe em outros países. E com que dinheiro.

O embargo americano é uma das maiores burrices realizadas pela política externa de Washington. Penaliza injustamente a população cubana e dá argumentos para os defensores do regime castrista elegerem um inimigo externo, os “imperialistas ianques”. A medida já rendeu condenações da ONU, do Vaticano, da OEA e de inúmeras organizações e entidades do mundo todo e faz os americanos assumirem o papel que não é deles – no caso, o de algozes.

A ironia dessa história é que os simpatizantes do regime cubano, inconscientemente, admitem que o sucesso do socialismo na Ilha depende do apoio do país que é ícone do capitalismo mundial. Ou seja, para ser bem-sucedido, não basta ser socialista: tem que ter a bênção dos capitalistas.

É realmente curiosa a posição dos cubanos e dos defensores da sua ditadura. Até 1959, o problema era a interferência dos americanos nos negócios da Ilha; depois, passou a ser a sua ausência.

Crianças brincam em rua de Havana, Cuba
Crianças em rua de Havana, Cuba

Inicialmente, é preciso esclarecer que a medida malfadada trata-se de um embargo, e não, como alguns denominam indevidamente, de um bloqueio. Cuba está proibida de negociar – em termos, como veremos a seguir – apenas com os Estados Unidos, mas pode fazê-lo com o resto do mundo. De fato, os cubanos comercializam livremente com o México, a China, o Japão, o Brasil, a Alemanha e dezenas de outros países.

O embargo sobre Cuba foi imposto por Eisenhower, intensificado por Kennedy e Reagan e convertido em lei no ano de 1992. Endureceu em 1996 devido à chamada Lei Helms-Burton, que proibiu os cidadãos americanos de realizar negócios na Ilha ou com o governo cubano. Isso não impediu que o país caribenho importasse alimentos diretamente de produtores agrícolas dos Estados Unidos, o que aconteceu logo depois da edição da lei e continua a acontecer – em parte por questões humanitárias; em parte por pragmatismo. Entre idas e vindas, hoje em dia é difícil saber de que forma o embargo americano funciona: os Estados Unidos são o maior exportador de produtos agrícolas para Cuba e o seu quinto maior exportador de produtos em geral.

É claro que Cuba não conta com as facilidades que os americanos concedem a outros países, tendo de pagar à vista pelos produtos que importa. No entanto, isso não ocorre porque o país é socialista e desrespeita os Direitos Humanos, mas porque é mesmo um mau pagador.

Em Cuba ninguém tem incentivos para produzir. Não há sistema de transporte adequado, não há infraestrutura, não há um esquema eficiente de escoamento da produção, não há ambiente para os negócios. As remessas de dólares de cubanos exilados correspondem quase à metade das reservas cubanas em moeda estrangeira, e sem elas seria ainda mais difícil o intercâmbio com o exterior. O maior inimigo da prosperidade econômica de Cuba não é o embargo, mas o regime socialista. O resto é cortina de fumaça.

A suspensão do embargo comercial americano, por si, não vai alterar em nada esse quadro e não resultará em melhoras na qualidade de vida da população cubana. Longe disso. Que os sectários e defensores do regime insistam nesse aspecto é compreensível. Mas que cabeças isentas e esclarecidas embarquem na ideia é duro de engolir.

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